quinta-feira, outubro 05, 2006

Votem em mim para deputado federal

Rapaz. Tö ficando fão (fã é coisa de mulher) do Danilo Damásio. Por isso e pedindo que ele não me processo eu estou reproduzindo dois artigos dele, que além de ser muito engraçados, são extremamente sinceros e realistas....

Quem quiser pode ler o outro. Lai vai.

Tenho procurado tempo para escrever um artigo por semana no Diário do Povo. Já sou quase um pop star por conta de meus modestos escritos.Neste espaço democrático tento seguir a lição do poeta Torquato Neto, "louvando o que bem merece, deixando o ruim de lado."Meus amigos que, como eu, não têm o que fazer, agora acharam de me dar corda para me candidatar a algum cargo eletivo. Essas opiniões chegam em boa hora. Eu já estou mesmo cansando do comércio. Quer ver? O sujeito com dinheiro no bolso, para abrir uma empresa e deixá-la regularizada, passa pelo menos seis meses de peregrinação por Prefeitura, Bombeiros, Crea, Secretaria da Fazenda e Receita Federal, sendo humilhado a partir do porteiro desses órgãos. Depois, se perde um monte de dinheiro com estocagem, inadimplência e Justiça do Trabalho.Os concorrentes tiram o sono da gente. O contador ganha sempre mais do que achamos que merece. Todo dia vence duplicata. Dia 10 tem pagamento de substituição tributária, FGTS e INSS. Dia 15 tem PIS, COFINS, IPI e o vale dos funcionários. Dia 20 tem o ISS. Dia 25 tem energia que sobe sempre acima da inflação. No fim do mês tem o complemento da folha de salário. Fora a manutenção e reposições de mercadorias feitas o mês inteiro. Tem também as renovações anuais de alvarás, IPTU, Contribuições Sindicais e sindicalistas. Tem aluguel, Imposto de Renda, fiscais, assaltos e tudo quanto é tipo de dor de cabeça.Então, pensando bem, do jeito que o negócio da política tá dando pra muita gente, pode dar certo pra mim também. A política é como coração de mãe: sempre cabe mais um. Mas o que tentar? Vereador eu não quero. Os gabinetes da Câmara são apertados e o prédio é feio. Por ser no centro da cidade os eleitores ficam o tempo todo na porta dos gabinetes, sempre pedindo. O menor pedido é o de vale-transporte.Prefeito e governador não dão pra meu bico. Deputado estadual tem que viajar muito e o povo também fica atalhando, fazendo pedido. Para Senador, não dá mais. O João Vicente já tomou de conta. Então, vai sobrar pra mim uma reles candidatura a deputado federal. Já pesquisei: o salário é em torno de 12 mil reais. Tem décimo-terceiro e décimo-quarto salário na convocação de fim de ano. Ainda dão uma verba de gabinete de 51 mil reais para contratar até 20 servidores. Dou mil para cada um e peço os 30 mil de volta. Tem auxílio moradia de 3 mil reais por mês, mas não pagarei aluguel. Compro um imóvel e uso esse dinheiro como prestação. Tem mais de 4 mil reais por mês só de cota postal e telefônica.Nos dias que não tiver fazendo nada, posso matar a saudade dos meus parentes no Piauí sem me preocupar com conta de telefone. Os deputados recebem também quase 13 mil reais por mês de passagens aéreas. É também minha intenção estar presente como representante da Câmara em todas as viagens internacionais com todas as despesas pagas pelo erário. Quero conhecer o mundo! E na base do 0800.Como candidato, farei as promessas de sempre: um Piauí diferente, lutar pela educação, geração de emprego e renda, segurança e tudo o que o povo mais precisa. A vontade de sair da pobreza é tão grande que tenho certeza que muita gente vai acreditar que eu posso contribuir para melhorar o Estado. Mas na verdade o que eu quero mesmo é passar bem.E ninguém merece mais ser deputado do que eu. Sou um sofredor. Até eu mesmo chego a ter pena de mim! Quando pequeno caí de uma calçada no depósito da Maguary, depois de escorregar em um chicabom . Sofri mais ou menos uns dez minutos. Meu pai é preto. Tenho o cabelo pixaim e não possuo casa em Parnaíba.Para ganhar a eleição,já sei: tome promessa! As promessas eu sei fazer, mas não sei como começar a campanha. Aliás, não sabia. Um amigo me deu um livro com um poema do paraibano Jessier Quirino que tem lá, direitinho, a receita de um comício em cima da carroceria de um caminhão, junto com os apaninguados. Basta seguir a receita e eu tô feito. Ou melhor, eleito. Veja:Pra se fazer um comícioEm tempo de eleiçãoNão carece de arrodeiNem dinheiro muito nãoBasta um F-4000Ou qualquer mei caminhãoEntalado em beco estreitoE um bandeirado má feitoCruzando em dez posição.Um locutor tabacudoDe converseiro compridoQue espalhe o alaridoMicrofone com flanelaOu vermelha ou amarelaConforme a cor do partido.Uma ganbiarra véaBanguela no acenderQuatro faixa de bramanteEscrito qualquer dizerDois pistom e um taróPode até ficar melhorUma torcida pra torcerAí é subir pra ribaMeia dúzia de corrutoQuatro babão, cinco putaUns oito capanga brutoE acunhar na promessaE a pisadinha é essa:Três promessa por minuto.Anunciar a chegançaDo corruto ganhadorPedir o "V" da vitóriaDos dedo dos eleitorE mandar que os vira-lataDo bojo da passeataTraga o home no andor.Protegendo o monossílaboDe dedada e beliscãoA cavalo na cacundaChega o dono da eleiçãoFaz boca de fecheclerE nesse qué-ré-qué-quéVez por outra um foguetão.Com voz de vento encanadoCom os viva dos babãoÉ só dizer que é mentiraSua fama de ladrãoFalar dos roubo dos homeE tá ganha a eleição.E terminada a campanhaFaturada a votaçãofoda-se povo, pistomFoda-se caminhãoPromessa, meta e programa...É só mergulhar na BrahmaE curtir a posição."